Site Meter

8 de abr. de 2007

Quanto tempo dura uma relação profissional feliz?


Ronaldo e Fátima dividem, além do casamento, a clínica de odontologia há quase duas décadas. Lígia e Mariana foram suas assistentes por 9 e 11 anos respectivamente. Cheguei lá há mais tempo que isso por indicação de um professor da FGV que, impressionado e inspirado pelo que via ali, montou uma escola de administração exclusiva para dentistas. São profissionais, como todos os outros da área de saúde, que chegam ao mercado sem ao menos uma matéria sequer na faculdade dedicada ao mundo do marketing, das finanças ou da administração. Mas Ronaldo, mais do que Fátima, foi um dentista quase por acidente: é um administrador nato (embora a “mão de fada” seja mais dela). Em todo este tempo que freqüentei a cadeira de ambos (para usar aparelho ortodôntico com ela e quase todo o resto com ele), também me acostumei com as duas. Casaram, tiveram filhos. Uma vez por ano, viagem para o Nordeste com despesas pagas pelos patrões: “melhor que prêmio em dinheiro”, Fátima me explicou. É aquela eficiência discreta e infalível em todas as sessões, a extensão da mão do profissional antecipando procedimentos, correndo para lá e para cá quase sem ruídos, em simbiose perfeita com todos os movimentos do dentista. Lá, as poltronas são equipadas com massageador, pode-se escolher o CD de música que quer escutar e o menu de DVD está a caminho. Máquina da café expresso na recepção e milhares de outros cuidados e mimos em cada canto da clínica. Diplomas da USP, equipamentos e materiais de primeira, preços proporcionais, claro, mas a garantia de um serviço e um atendimento de primeira.

Mas às vezes o universo resolve conspirar contra. A mãe da Mariana ficou doente em Sorocaba e não tinha mais quem olhasse por ela, a não ser a filha zelosa que Mariana com certeza é. O marido de Lígia iniciou um pequeno negócio de bomboniere e um belo dia a única funcionária do novo empreendimento resolveu não dar mais as caras. Assim Lígia deixou o consultório numa manhã para socorrer o negócio familiar e nunca mais voltou. Em coisa de menos de vinte dias, ambas se foram: uma com aviso, a outra sem.

Desde então, assisto constrangido à sucessão de instruções desanimadas e um tanto impacientes do Ronaldo sobre como preencher a ficha do paciente que está, de novo, incompleta, uma ferramenta colocada erradamente para o procedimento, um material que ninguém sabe onde guardou, uma massa misturada em proporções erradas. É o caos a olhos vistos, coisa de dar dó. Mas que fazer? Foram 9 e 11 anos de bons serviços, tudo em harmonia e na santa paz, desfeitos por circunstâncias da vida. Mães que adoecem, filhos que nascem e futuros conjugais para se construir, nada haver com insatisfação por mais oportunidades, dinheiro ou dignidade junto aos chefes. Às vezes acontece e pronto. E no caso deles, em termos empresariais, a coisa até que durou muito. Ou não?

Um comentário:

Anônimo disse...

Durou muito tempo, mesmo. Mas, será que isto é saudável numa relação de trabalho? Será que estas relações de trabalho de 10 anos não nos fazem ficar acomodados? Tanto os patrões quanto seus empregados? “As coisas estão funcionando bem então deixa assim, né?” “Time que está jogando não se mexe.” Mas, será que isto é legal? Será que se mudarmos a secretária ela não trará uma novidade que irá economizar tempo ou aumentar a eficiência do nosso dia a dia? Ou se a nova ajudante mudar o local de guardar os instrumentos nos faça perceber que ficou muito mais fácil de encontrá-los? Acho que toda mudança é essencial para o crescimento pessoal e profissional das pessoas... E acredito que se nós não a procurarmos, ela procura por nós...