Sua empresa já tem um plano anti-suicídios?
Três funcionários da principal fábrica da Renault na França se suicidaram entre novembro e fevereiro deste ano. Os incidentes ocorreram na unidade onde são concebidos 19 dos 26 novos modelos que deverão recuperar a marca até 2009, que andava cambaleando mas vem apresentando melhoras expressivas após ter sido entregue ao comando do brasileiro Carlos Ghosn.
Nessa unidade, a taxa média de 6 lançamentos ao ano cresceu 50% em relação aos últimos 4 anos, graças a aumentos significativos das jornadas de trabalho, segundo alguns dos 8 mil engenheiros e técnicos da unidade. A Renault colocou seu diretor geral adjunto encarregado de desenvolver um plano anti suicídio na empresa. Isso mesmo: um plano anti-suicídio.
Eu fico imaginando: que medidas podem ter tal plano?
Meu palpite é que o executivo tem duas direções a seguir: convencer seus pares, o chefe brasileiro linha dura, conselheiros e acionistas que a empresa foi longe demais nessa história de virar o jogo, recuperar-se no mercado e tornar-se novamente competitiva. Poderia contentar-se em manter os resultados e taxas de retorno do último ano – aliás, festejar esses números, pois: "foram muito melhores que qualquer outro do passado recente”, apontaria com exclamação cautelosa.
“O Board poderia considerar, pelo menos, desacelerar o ritmo do crescimento. Em miúdos: abaixar a meta de lançamentos, o ritmo das pesquisas e inovações, cortando também alguns projetos simultâneos de aperfeiçoamento nos processos produtivos e de gestão que estão deixando todos ensandecidos. Enfim, amenizar todos esses visíveis e inegáveis sacrifícios, praticamente desumanos, que têm sido impostos às equipes e pessoas. Não só pelas pessoas, pela própria sustentabilidade da empresa”, concluiria humilde mas convicto.
Ou a ação do executivo será chamar o líder de RH para que façam o seguinte: investigar com urgência e prioridade absoluta as causas dos incidentes ocorridos. Frentes de trabalho:
1) Contratar uma consultoria altamente especializada para rever e aperfeiçoar a atuação do departamento médico e de saúde ocupacional, que falharam em não detectar essa tendência no chão da fábrica (“mas comeram bola!?”, afirmaria com dúvida esperançosa).
2) Convocar a seguradora médica para explicar se as ocorrências médicas recentes, faltas e licenças não haveriam aumentado e constam nos relatórios como estatísticas alarmantes.
3) Verificar junto a Recrutamento & Seleção porque as vagas de crescimento de quadro solicitadas ainda não foram preenchidas. “Não foram aprovadas? Quem não aprovou?”
4) E como anda o trabalho da área de treinamento encarregada de capacitar a equipe em tarefas multidisciplinares, para que a mão de obra se torne mais versátil e viabilize a expansão dos turnos de produção de forma mais racional e organizada. “Quanto tempo, afinal esse programa de treinamento ainda vai levar para surtir efeito?”
5) Por fim, medida crítica e prioritária: pesquisar no mercado o que outras empresas (de preferência, do setor automobilístico) estão fazendo para combater o stress e melhorar a qualidade de vida de seus funcionários. “Aliás, o que aconteceu com todos os programas e aumentos de investimentos que temos feito nessa área nos últimos anos?” cobraria como justa reivindicação.
Quero estar enganado sobre o rumo que esse plano vai tomar. E queria que de tão surreal não fosse verdade.
Só por precaução, que tal lançar em discussão na próxima reunião do seu grupo de RH (o da empresa e aquele que reúne seus pares de mercado) quais seriam as eventuais medidas de um plano anti-suicídio na sua empresa?
2 comentários:
Flavito,
Eu acredito no simbólico... e o simbólico está no nome, no texto inicial, no ponto de partida... Farejo sucesso! Gostei do que vi... não pare! ;)
Chegou o dia! Uma hora vc teria que voltar a compartilhar suas idéias e textos maravilhosos com agente, desde a época de escola me lembro de como era chato ter que ler a redação depois da sua vez ! Hahahahaha
Bom saber que vc continua o Flávio escritor de sempre.
Sucesso!
Abração
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