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12 de fev. de 2007

Um gestor de pessoas recém promovido é um calouro se debatendo dentro d'água


Já tinha gerenciado pessoas antes, mas só estagiários ou uns 2 ou 3 juniors. Aí fui contratado como o novo super gerente, com o desafio de aumentar vendas, mudar a cultura, carta branca para reestruturar o time: o pacote todo.

Umas doze, talvez quinze pessoas, não lembro bem. A expectativa da equipe lá em cima com o novo talento que iria chacoalhar estruturas e pôr a casa em ordem.

Pois é, a coisa foi virando uma comédia de erros, desencontros e mal entendidos. Jurava que estava fazendo tudo certo, implantando as medidas que minha diretora havia me encomendado. Desde coisas bobas como dar uma atualizada no código de vestimenta (dress code). Assim, na minha cartilha, sandália que deixava o dedo aparecer, nem pensar (ainda hoje me gozam por essa). Ou passar a supervisionar os projetos mais de perto para garantir a qualidade do padrão de atendimento prometido aos clientes. Perder autonomia, ninguém gosta.

Virei o impopular da hora. Alguns eu mandei embora, porque iriam ser de qualquer forma, fosse quem fosse assumir. Outros, que não deviam, pediram demissão. Errei na medida.


A velocidade dos acontecimentos, nessas horas, te atropelam. O negócio andando e as responsabilidades do dia a dia acontecendo. Parece que existe uma 6a ou 7a dimensão parelela de realidade, cheia de entrelinhas subtendidas, agendas ocultas e jogos de conspiração imaginários rolando soltos, desperdiçando mega watts de energia.

Ninguém me preparou ou sequer avisou sobre os perigos da empreitada. Eu nem sabia que corria todos esses riscos. Simplesmente vai acontecendo e quando você percebe, a crise instalada, o motim para estourar, discussões sobre mandar ou não embora fulano que até ontem era genial.

A sorte foi que eu tinha uma diretora que entendia a situação e me deu total apoio - mesmo nas decisões mais equivocadas. E não porque ela havia me contratado e tinha essa obrigação. Um pouco porque nem quem é muito experiente às vezes tem como evitar certas situações em gestão de pessoas.

Mas e hoje, avisam ou preparam melhor esses gestores recém promovidos?

Era início dos anos 2000 e ainda não vejo muitas melhoras nessa área. Porque se os gestores atuais com anos de estrada ainda têm inúmeras dificuldades em lidar com suas equipes, imagina investir tempo e $recursos$ com os que estão para ser promovidos. Haja fôlego e eficiência de treinamento!

Prioridades são prioridades e foco é foco. Afinal, o desafio de engajar (mais que motivar, incumbir um desejo de fazer mais e ir além da média) é uma arte, desenvolvível, mas que leva tempo, experiência, maturidade, acerto e erro. E os gestores são alçados às suas posições cada vez mais jovens e portanto, mais inexperientes.

Portanto, o "gap" de desenvolvimento só aumenta. Tão aí todas as pesquisas indicando o foco em desenvolvimento de liderança reinando absoluto. E nem era pra menos. Essas pessoas são como aqueles calouros que entram na faculdade cheios de gás e empolgação e aí vão percebendo que a realidade é ligeiramente diferente do que haviam imaginado. É aquela fase em que são forçados a virar um pouco mais adultos. E têm que passar por isso sozinhos, nenhuma teoria ou conselho vai substituir a experiência prática.

Uns estão prontos para os desafios dessa fase, amadurecem rápido, como patinhos feios que viram cisnes. Outros, se debatem tanto na água que começa a chegar ao pescoço e parece que vão se afogar. E de fato, nunca conseguem chegar à alto mar. Pois para aprender a nadar assim é preciso ter peito e coragem, porque o mar é vasto, cheio de surpresas e turbulências. E sem orientação e aprendizagem sobre os diversos instrumentos, rotinas e processos que podem tornar a viagem mais calma e segura, tudo pode ficar bem mais difídil do que deveria.
Um gestor mais experiente, que conhece a cultura da empresa, disponível para dar apoio e orientação nessas fases de transição (mesmo que ele mesmo não saiba as respostas) podem fazer toda a diferença.

O que aconteceu comigo e minha equipe? Aprendi a nadar. Contratei pessoas novas, passei por um processo de coaching, me aproximei e construí uma ótima relação com a equipe que dura até hoje em muitos casos, e batemos todas as metas. Calouro daquele jeito, espero que nunca mais.

2 comentários:

Marco disse...

Que história legal, Flavinho! Não sabia desse seu histórico... quero até explorar mais no próximo papo de buteco...

Anônimo disse...

É... promover os talentos e dar oportunidades para que cresçam e façam a diferença é uma estratégia de risco, pois muitas vezes têm que lidar com situações para as quais não estavam preparados (quer dizer, na maioria das vezes!). E o risco é para a empresa e para o profissional, que pode se queimar. Mas sou adepta dessa estratégia, e acho que o RH tem a responsabilidade por minimizar esses riscos. A área deve estar à frente dos processos de identificação de talentos e cuidar de suas carreiras dentro da empresa.