Overdose de metas e avaliações
O gestor brasileiro de uma multinacional de tecnologia precisa estabalecer pelo menos uma meta para cada uma das quatro dimensões do Balanced Scorecard (BSC) da empresa. Além disso, tem que criar outro conjunto de metas relacionado a aumentar os lucros e melhorar resultados. Da avaliação do BSC no final do ano sai a decisão de aumento salarial, e das demais metas o pagamento do bônus. Essas avaliações são feitas pelo superior imediato assessorado pela consultoria interna de RH, que precisam ser discutidas e validadas em um comitê de gestores do mesmo nível, para produzir consenso sobre todos os avaliados em conjunto. Somando tudo isso a uma avaliação de competências globais, define-se um mapa corporativo de potenciais e talentos, que indica os sucessores e "back ups" das posições estratégicas, com plano de desenvolvimento sob medida para cada um.
Considere que a área de RH é a primeira a admitir que os gestores andam confusos sobre como definir metas para dois sistemas de resultados diferentes. Na prática, os gestores não sabem muito bem quais metas criar, nem em qual sistema registrá-las. Acabam mal escritas, imprecisas, inócuas. Se todo o processo parte de um viés de incompreensão e mal elaboração das metas, que qualidade e legitimidade interna pode ter a decisão sobre quem recebe aumento, qual o bônus de cada um, quem tem potencial para ser promovido? As decisões sobre pagamentos acabam saindo de uma forma ou de outra, porque quando o assunto é liberar verba não tem burocracia que emperre o processo. Mesmo porque não tem exercício de poder maior para um gestor do que decidir o bônus e o aumento de cada um da equipe, ainda que precise de validação em comitê. Já o mapa de potenciais, como em muitas outras empresas, tem baixa probabilidade de converter suas projeções em fatos reais, porque o mapeamento não é o fim do processo, mas a partir dele é que se deve iniciar um longo e árduo trabalho de transformar as melhores apostas em realidade, o que envolve treinamento, coaching, observação, remuneração diferenciada (ou seja: tempo, dinheiro, esforço....) além de muito compromtimento de toda a alta gerência. Na prática, esse processo acaba ficando meio de lado quando a empresa ainda está lutando para que os gestores entendam o seu sofisticado processo de elaboração de metas.
Moral da história: Do papel para a prática existe um longo caminho. E entre simplesmente executar o processo e obter resultados positivos com ele, um outro tanto. Talvez com anos de prática, treinamento e muito aperfeiçoamento do processo como um todo, essa empresa atinja resultados satisfatórios que justifique tamanha mobilização interna. Por enquanto, os gestores ainda não conseguem ligar os pontos entre o emaranhado de metas, as avaliações e os benefícios práticos para ele, sua equipe e a empresa. E pensando bem, existem muitas empresas por aí, inclusive de grande porte, cujos diretores e gerentes trabalham sem metas anuais, mas sabem perfeitamente tudo o que têm que fazer durante o ano, e vão muito bem. Ou não. Nas empresas brasileiras, estabelecer metas individuais é uma tremenda dificuldade. É uma prática nova, iniciada com mais força a partir dos anos 80. Em parte, essa dificuldade vem da nossa herança cultural afoita a qualquer compromisso de "longo prazo": na nossa perspectiva, quanto mais flexibilidade melhor, é para isso que passamos anos desenvolvendo nosso famoso jogo de cintura para lidar com as adversidades. Também confundimos o que é "obrigação" do dia a dia com "objetivo" anual. E precisa ainda saber separar o que é relevante para a área e a função de cada um versus o que tem imapcto nos objetivos da empresa como um todo. São conceitos confusos mesmo, que temos pouca tradição em fazer. O que importa é que não adianta forçar a empresa inteira a aderir a um processo sofisticadíssimo e super engessado (porque é padronizado globalmente) desprovido de significado e de resultados concretos para as pessoas. Torna-se o "fazer pelo fazer" por que RH ou a matriz pediu. O trabalho é tão grande e os efeitos tão incertos e improváveis, que acaba não valendo o esforço. Será que não dava para implantar tudo um pouco mais devagar ou pelo menos com mais comunicação e treinamento?
Considere que a área de RH é a primeira a admitir que os gestores andam confusos sobre como definir metas para dois sistemas de resultados diferentes. Na prática, os gestores não sabem muito bem quais metas criar, nem em qual sistema registrá-las. Acabam mal escritas, imprecisas, inócuas. Se todo o processo parte de um viés de incompreensão e mal elaboração das metas, que qualidade e legitimidade interna pode ter a decisão sobre quem recebe aumento, qual o bônus de cada um, quem tem potencial para ser promovido? As decisões sobre pagamentos acabam saindo de uma forma ou de outra, porque quando o assunto é liberar verba não tem burocracia que emperre o processo. Mesmo porque não tem exercício de poder maior para um gestor do que decidir o bônus e o aumento de cada um da equipe, ainda que precise de validação em comitê. Já o mapa de potenciais, como em muitas outras empresas, tem baixa probabilidade de converter suas projeções em fatos reais, porque o mapeamento não é o fim do processo, mas a partir dele é que se deve iniciar um longo e árduo trabalho de transformar as melhores apostas em realidade, o que envolve treinamento, coaching, observação, remuneração diferenciada (ou seja: tempo, dinheiro, esforço....) além de muito compromtimento de toda a alta gerência. Na prática, esse processo acaba ficando meio de lado quando a empresa ainda está lutando para que os gestores entendam o seu sofisticado processo de elaboração de metas.
Moral da história: Do papel para a prática existe um longo caminho. E entre simplesmente executar o processo e obter resultados positivos com ele, um outro tanto. Talvez com anos de prática, treinamento e muito aperfeiçoamento do processo como um todo, essa empresa atinja resultados satisfatórios que justifique tamanha mobilização interna. Por enquanto, os gestores ainda não conseguem ligar os pontos entre o emaranhado de metas, as avaliações e os benefícios práticos para ele, sua equipe e a empresa. E pensando bem, existem muitas empresas por aí, inclusive de grande porte, cujos diretores e gerentes trabalham sem metas anuais, mas sabem perfeitamente tudo o que têm que fazer durante o ano, e vão muito bem. Ou não. Nas empresas brasileiras, estabelecer metas individuais é uma tremenda dificuldade. É uma prática nova, iniciada com mais força a partir dos anos 80. Em parte, essa dificuldade vem da nossa herança cultural afoita a qualquer compromisso de "longo prazo": na nossa perspectiva, quanto mais flexibilidade melhor, é para isso que passamos anos desenvolvendo nosso famoso jogo de cintura para lidar com as adversidades. Também confundimos o que é "obrigação" do dia a dia com "objetivo" anual. E precisa ainda saber separar o que é relevante para a área e a função de cada um versus o que tem imapcto nos objetivos da empresa como um todo. São conceitos confusos mesmo, que temos pouca tradição em fazer. O que importa é que não adianta forçar a empresa inteira a aderir a um processo sofisticadíssimo e super engessado (porque é padronizado globalmente) desprovido de significado e de resultados concretos para as pessoas. Torna-se o "fazer pelo fazer" por que RH ou a matriz pediu. O trabalho é tão grande e os efeitos tão incertos e improváveis, que acaba não valendo o esforço. Será que não dava para implantar tudo um pouco mais devagar ou pelo menos com mais comunicação e treinamento?
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